9 de abril de 2010

Emir Kusturica


Nascido a 24 de Novembro de 1954 em Sarajevo, capital da actual Bosnia Herzegovina, oriundo de uma família Bósnia Muçulmana com raízes Eslovacas Ortodoxas, Emir Kusturica distinguiu-se sobretudo como realizador, produtor e músico.
Assim como milhões de Jugoslavos, o seu pai Murat, renunciou à sua fé para se tornar comunista, mas cedo Emir recusou o comunismo para se tornar… director cinematográfico.
O jovem Kusturica, aos 18 anos começou a ser visto com “más companhias”, típicas de Sarajevo, e os seus abastados pais, com o intuito de o proteger, enviaram-no para Praga, para aprender cinema na prestigiada escola FAMU.
As suas curtas-metragens foram muito apreciadas logo de início, impressionando todos os professores, sobretudo pela forte crítica indirecta e metafórica perceptível a todos. Kusturica ficou muito marcado por toda a crítica positiva em torno das suas filmagens, o que o influenciou e ajudou a cumprir os seus projectos pessoais, como o filme que lhe proporcionou o prestigiado prémio “Palma de Ouro” no Festival de Cannes, “When Father Was Away On Business”, que denuncia as exportações políticas na Jugoslávia comunista, um assunto que ainda continua tabu nos dias de hoje. Emir filmou sempre na sua própria língua, utilizando pronúncias e dialectos locais, para enaltecer o pluralismo da Jugoslávia (1), deste modo “Do You Remember Dolly Bell” é o primeiro filme Jugoslavo a ser filmado em Bósnio e não na língua oficial do país, o Servo-croata.
Após ter ganho a “Palma de Ouro”, Kusturica interrompeu os seus projectos decorrentes e futuros e largou a câmara por uns tempos. Começou a tocar guitarra-baixo numa banda de punk rock em Sarajevo, os Zabranjeno Pusenje (Smoking Forbidden).
Mas o Festival de Cannes abriu-lhe muitas portas no mundo do cinema, começando a aparecer projectos de grande orçamento, e Emir começa a pensar sobre diferentes temas e diferentes locais, mas curiosamente, é no seu país natal que ele dirige “Time Of The Gypsies” depois de ler artigos sobre ciganos que negociavam e comercializavam seres humanos. Emir, com a ajuda de um jornalista, digeriu exaustivamente o assunto, chegando a passar vários meses num dos maiores campos de ciganos da Europa, perto de Skopje na Macedónia. Após as filmagens, Milos Forman, um director checo, recruta-o para Nova Iorque para o substituir na Universidade Columbia onde terminou a edição do filme “Time of the Gypsies”.
Depois de um longo período de reflexão, filma em Inglês, um guião de um dos seus alunos sobre o sonho americano, o “Arizona Dream”. Mas entretanto, desencadeia-se a guerra dos balcãs, e longe da sua família, Kusturica deixa de ter condições para trabalhar.
O seu pai, Murat, morre de ataque cardíaco após a sua casa em Sarajevo ser saqueada, e a sua família refugia-se em Montenegro. Depois desta experiência, Emir sente necessidade de voltar a sua terra natal para revelar aos ocidentais a história do seu país. Começa o seu ambicioso projecto “Underground”, vencedor da “Palma de Ouro” em 1995, baseado num cenário de Dusan Kovacevic , um grande autor de teatro Jugoslavo. Retrata a história de 50 anos do seu país, desde a segunda guerra mundial ate à actualidade.
Depois de “Underground”, Kusturica pensa em retirar-se do cinema mas a conquista da sua segunda “Palma de Ouro” torna-se o crédito mais significativo da sua carreira, tornando-se um dos grandes directores cinematográficos de todos os tempos. Rapidamente, Emir volta atrás na sua decisão e começa novos projectos, mais leves e com final feliz em “Black Cat, White Cat” e “Super 8 Stories”, onde se sente optimismo mesmo que todos os dias não sejam perfeitos.
Com Kusturica, o optimismo também pode ser observado em palco, pois logo após o sucesso de “Black Cat, White Cat”, junta-se com alguns membros da sua antiga banda e rebaptizam-se de No Smoking Orchestra. Emir compõe, toca e segue em tournée com a banda. O sucesso dos concertos é impressionante desde a América do Sul até ao Japão.
Emir regressa ao cinema com o filme “Life is a Miracle”, que levou um ano e meio a filmar e em que a beleza natural do paraíso de Mokra Gora, na Sérvia, tem quase o papel principal, com cores intensas e grandes paisagens. Depois de terminado, decide aí construir uma vila, Kustendorf (2), começando por abrir uma escola de cinema, residências e restaurantes.
De volta a Cannes em 2005, Emir é escolhido para ser presidente do Júri do Festival. Em 2007 volta a Kustendorf para filmar o projecto “Promisse me this”, uma comédia endiabrada ao estilo de Federico Fellini. O seu último trabalho é “Maradona by Kusturica”, um documentário biográfico sobre a vida do futebolista argentino Diego Maradona.
Como actor, Kusturica participou tanto em filmes próprios, o traficante de armas de Underground e o baixo de Super 8 Stories, como em filmes alheios, La Veuve de Saint Pierre (2000) - nomeado para o César do Melhor Actor Secundário - e Hermano (2001).
Homem polémico, em 1993, desafiou para um duelo o líder do Movimento Ultranacionalista Sérvio, Vojislav Seselj, que, na sua opinião, se deveria realizar no centro de Belgrado com qualquer arma escolhida pelo seu adversário. Vojislav Seselj recusou com o argumento de que não queria vir a ser acusado do assassínio de um artista. Em 1995, Kusturica agrediu, durante o Festival de Cinema Internacional de Belgrado (FEST), o líder do Novo Movimento de Direita da Sérvia, Nebojsa Pajkic.

(1) Jugoslávia - Primeiramente, existiu um reino formado em 1918: o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, que passou a chamar-se Reino da Jugoslávia em 1929 e existiu com esse nome até ser invadido em 1941 pelas potências do Eixo. Depois tornou-se um Estado comunista instituído imediatamente após a Segunda Guerra Mundial em 1945 chamado República Popular Federal da Jugoslávia (RPFJ) em 1946 e na República Socialista Federativa da Jugoslávia (RSFJ) a 7 de Abril de 1963. Esta versão do estado subsistiu até 1992, quando quatro das seis repúblicas que a compunham (Eslovénia, Croácia, Macedónia e Bósnia e Herzegovina) deixaram a federação para formar Estados completamente independentes.
(2) Küstendorf - é uma pequena aldeia sérvia situada perto da fronteira com a Bósnia. Em 2004 quando o cineasta Emir Kusturica filmava “A vida é um milagre”, descobriu o local e resolveu construiur a aldeia a partir de velhas casas trazidas de aldeias vizinhas. Para além de se ter tornado uma atracção turística, Kustendorf recebe desde há três anos um festival de cinema e música de inspiração cigana, que é gratuito.

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