7 de setembro de 2010

Xavantes

Os Xavantes são um grupo indígena que habita no leste do estado brasileiro do Mato Grosso, mais precisamente nas reservas indígenas de Areões, Marechal Rondon, Parabubure, Pimentel Barbosa, São Marcos, Áreas Indígenas Areões I, Areões II, Maraiwatsede, Sangradouro/Volta Grande, Terras Indígenas Chão Preto, Ubawawe, bem como no noroeste de Goiás, nas Colónias indígenas Carretão I e Carretão II.
Actualmente, a sua população é composta por 10 mil pessoas e está em crescimento. A sua língua é o Aqüem que é proveniente do Macro-jê e tinham como actividade predominante, até à segunda metade do século XX, a caça, a pesca e a colheita de frutos e palmeiras.
Auto denominam-se A'wê Uptabi, que significa "gente verdadeira". Pintam-se com jenipapo, carvão e urucum, tiram as sobrancelhas e as pestanas, usam cordinhas nos pulsos e pernas e a gravata cerimonial de algodão. O corte de cabelo, os adornos e as pinturas marcam a diferença dos Xavantes em relação aos outros, transmitida também através dos canticos pelos ancestrais.
Houve tentativas de integração com a sociedade brasileira em meados do século XIX, mas optaram por distanciar-se migrando, entre 1830 e 1860, em direcção ao actual estado do Mato Grosso, onde viveram sem serem intensivamente assediados até à década de 30 do século passado.
Na década de 90, os Xavantes tiveram várias experiências novas com os "estrangeiros", como um intercâmbio realizado com a Alemanha, a implementação de um projecto de educação bilíngüe e uma parceria musical com a banda de rock Sepultura, no álbum "Roots".
A região onde vivem hoje tem uma grande rede hidrográfica formada pelas bacias dos afluentes dos rios Kuluene, Xingu, Mortes e Araguaia. É dessa região de floresta tropical, mato e savana, com árvores baixas e altas, que os índios retiram o alimento e os materiais para o seu artesanato, armas, instrumentos musicais e as ocas (cabanas), dispostas em forma circular.
Devido à actual ocupação da região pelas culturas da soja e pela criação de gado, bem como outras monoculturas agrícolas, o uso de pesticidas e a diminuição das matas, o seu modo de vida ligado à caça e à colheita tem mudado bastante. Muitas vezes a "caça" e a "colheita" são deslocadas da mata para as cidades vizinhas, onde vão adquirir alimento e coisas dos "estrangeiros". Na literatura antropológica, os Xavante são conhecidos principalmente pela sua organização social dualista, ou seja, trata-se de uma sociedade em que a vida e o pensamento dos seus membros estão constantemente permeados por um princípio diádico, que organiza a sua percepção do mundo, da natureza, da sociedade e do próprio cosmos como estando permanentemente divididos em metades opostas e complementares.
A sua tradição tem uma maneira própria de ser transmitida e transformada, através de relatos, rituais e ensinamentos. A escrita é uma necessidade a que o povo Xavante se adaptou, com o intuito de reivindicar o seu espaço na sociedade nacional e internacional.
Entre as suas práticas desportivas está a "corrida de tora de buriti", denominada uiwede, uma corrida de “estafeta” em que duas equipas de gerações diferentes correm cerca de 8 km, passando uma tora de palmeira de buriti com 80 kg de um ombro para o outro até chegarem ao pátio da aldeia.
Desde pequenos os meninos formam grupos de idade semelhante. Quando chega o momento certo, os mais velhos decidem a entrada no Hö (casa tradicional, especialmente construída numa das extremidades do semicírculo da aldeia, para a reclusão dos wapté durante o período de iniciação para a fase adulta), onde os meninos vão viver reclusos, durante cinco anos, até ao momento de casar com uma moça escolhida para ele. Antes de os meninos entrarem para o Hö, acontece a cerimónia do Oi'o, em que os meninos demonstram a sua coragem, os seus medos e as suas fraquezas através da luta entre eles.
O ritual do furo da orelha acontece na passagem da adolescência para a vida adulta. Todos os meninos Xavante, entre os 10 e os 18 anos, passam por um período de reclusão de cinco anos na casa dos solteiros, onde permanecem sem contacto com a tribo. Nesse período os jovens ficam numa casa, chamada Hö, onde têm contacto apenas com os padrinhos. Eles só deixam a casa para rituais e actividades fora da aldeia, como caça e pesca.
Após os cinco anos há uma festa na aldeia, chamada Danhono, onde a orelha dos jovens é furada com um osso de onça parda. Após o ritual, os jovens passam a ser considerados adultos e voltam ao convívio social com a tribo.
Para os Xavantes não existe contradição entre absorver elementos "estrangeiros" (como roupas, relógio, comida) e manter viva sua tradição. Alguns vêm nisso uma forma de resistência à violência ideológica sofrida por todas as comunidades "menores" ou menos "importantes" na sociedade globalizada e hierarquizada, para quem as tradições antigas são consideradas como ultrapassadas, como histórias sem sentido e sem valor na vida mercantil, que rotula tudo o que é diferente do "ideal" como mau e atrasado.

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