25 de setembro de 2010

Canal do Panamá



O Canal do Panamá é um canal com 56 quilómetros de extensão, que corta o istmo do Panamá, ligando assim o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, no Panamá.
O canal possui quatro grupos de comportas no lado do Pacífico e um no do Atlântico. Neste último, as portas maciças de aço das comportas triplas de Gatún têm 140 metros de altura e pesam 745 toneladas cada uma, mas são tão bem contrabalançadas que um motor de 56kW é suficiente para abri-las e reabri-las. O lago Gatún, que fica a 26 metros acima do nível do mar, é alimentado pelo rio Chagres, onde foi construída uma barragem para a formação do lago. Do lago Gatún, o canal passa pela falha de Gaillard e desce em direcção ao Pacífico, primeiramente através de um conjunto de comportas em Pedro Miguel, no lago Miraflores, a 16,5 metros acima do nível do mar, e depois, através de um conjunto duplo de comportas em Miraflores. Todas as comportas do canal são duplas, de modo a que os barcos possam passar nas duas direcções. Os navios são encaminhados para o interior das comportas através de pequenos aparelhos ferroviários. O lado do Pacífico é 24 centímetros mais alto que o lado do Atlântico e tem marés muito mais altas.
Existem diversas ilhas no lago Gatún, incluindo a ilha Barro Colorado, um santuário mundial de vida selvagem.
Foram diversos os navegadores, ao longo da História, que procuraram uma passagem entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. O português Fernão Magalhães, ao serviço da Coroa Espanhola, descobriu, em 1520, um estreito que recebeu o seu nome (estreito de Magalhães). A partir de então, a ligação entre os dois oceanos tornava-se possível, através de uma viagem que era longa, demorada e arriscada, levando a que se pensasse na abertura de um canal que os unisse.
A primeira tentativa conhecida foi empreendida ainda sob o reinado de Carlos I de Espanha, em 1523, mas como as seguintes, até ao século XIX, quando se pensou em transportar as embarcações por ferrovia através do istmo, não teve sucesso.
Em 1878, o francês Ferdinand de Lesseps, construtor do canal de Suez, obteve uma concessão do governo da Colômbia, a quem a região pertencia na época, autorizando a sua empresa a iniciar as obras de abertura do canal.
O projecto de Lesseps constituía-se na abertura de um canal ao nível do mar. Entretanto, na prática, os seus engenheiros nunca conseguiram uma solução para o problema do curso do rio Chagres, que atravessava em diversos pontos o traçado projectado para o canal. Além disso, a abertura deste ao nível do mar, implicava uma completa drenagem daquele rio, um desafio para a engenharia da época.
As obras iniciaram-se em 1880, com base na experiência de Suez. Entretanto, as diferenças de tipo de terreno, relevo e clima constituíram-se em desafios inconsideráveis. Chuvas torrenciais, enchentes, desmoronamentos e altíssimas taxas de mortalidade de trabalhadores devido a doenças tropicais, nomeadamente a malária e a febre-amarela, causaram demoras imprevistas no projecto original. Em 1885, o plano inicial de um canal ao nível do mar foi alterado, passando a incluir uma comporta. Entretanto, após quatro anos de investimentos e trabalho, a empresa faliu.
O presidente norte-americano Theodore Roosevelt estava convencido de que os Estados Unidos podiam terminar o projecto e reconheceu que o controle norte-americano da passagem do Atlântico para Pacífico seria de uma importância militar e económica considerável. O Panamá fazia então parte da Colômbia e Roosevelt começou as negociações com os colombianos para obter a permissão necessária. No início de 1903, o Tratado Hay-Herran foi assinado pelos dois países, mas o Senado colombiano não o ratificou. No que foi então, e ainda hoje é, um movimento polémico, Roosevelt deu a entender aos rebeldes panamenhos que, se eles se revoltassem contra a Colômbia, a marinha norte-americana apoiaria a causa de independência panamenha. O Panamá acabou por proclamar a sua independência em 3 de Novembro de 1903, e o navio USS Nashville, em águas panamenhas, impediu toda e qualquer interferência colombiana.
Quando as lutas começaram, Roosevelt ordenou à Marinha para estacionar navios de guerra perto da costa panamenha para "exercícios de treino". Muitos argumentam que o medo de uma guerra contra os Estados Unidos obrigou os colombianos a evitarem uma oposição séria ao movimento de independência. Os panamenhos vitoriosos devolveram o favor a Roosevelt permitindo aos Estados Unidos o controle da Zona do canal do Panamá em 23 de Fevereiro de 1904 por 10 milhões de dólares (como previsto no Tratado Hay-Bunau-Varilla, assinado em 18 de Novembro de 1903) e de uma renda anual de 250 mil dólares a partir de 1913.
O primeiro engenheiro-chefe do projecto foi John Findlay Wallace. Prejudicado pelas doenças e pela escassa organização, sem condições de trabalho, acabou por se demitir após um ano.
O segundo engenheiro-chefe, John Stevens, optou pela construção de um canal com comportas, propondo-se a controlar o curso do rio Charges através de um aterro de grandes dimensões, formando uma barragem em Gatún. O lago artificial assim formado não apenas forneceria a água e a energia eléctrica necessários à operação das comportas, como também constituiria uma via líquida, que cobriria um terço da distância no istmo. Stevens conseguiu construir a maior parte da infraestrutura necessária para as obras, incluindo a construção de casas para os trabalhadores, a reconstrução da ferrovia do Panamá destinada ao transporte de carga pesada e o projecto de um método eficiente de remoção de entulho decorrente do desmonte de rochas pela ferrovia. Viria a demitir-se, por sua vez, em 1907.
Nesta etapa, o grande sucesso dos EUA foi a erradicação do mosquito transmissor da febre-amarela, que havia vitimado cerca de vinte mil trabalhadores franceses. Com base nos trabalhos do médico cubano Juan Carlos Finlay, Walter Reed havia descoberto em Cuba, durante a Guerra Hispano-Americana, que a doença era transmitida por mosquitos. Desse modo, as novas medidas sanitárias introduzidas pelo Dr. William C. Gorgas eliminaram a febre-amarela em 1905 e melhoraram as condições de higiene e trabalho.
O terceiro e último engenheiro-chefe foi o coronel George Washington Goethals. Sob a sua direcção, os trabalhos de engenharia foram divididos entre a construção de represas, de comportas e de lagos em ambos os lados, e o grande trabalho de escavação através da falha continental em Culebra (Passo de Culebra, hoje conhecido como Falha de Gaillard).
Após dez anos de trabalho e da escavação de um volume de material, quase quatro vezes maior do que o inicialmente projectado, o canal foi finalmente concluído a 10 de Outubro de 1913, com a presença do presidente norte-americano Woodrow Wilson, que naquela data apertou o botão para a explosão do dique de Gamboa. Diversos trabalhadores das Índias Ocidentais trabalharam no canal, e a mortalidade oficial elevou-se a 5.609 mortos.
Concluídas as obras complementares, quando o canal entrou finalmente em actividade, a 15 de Agosto de 1914, constituía-se numa maravilha tecnológica. A complexa série de comportas permitia até mesmo a passagem dos maiores navios da época. O canal foi um triunfo estratégico e militar importantíssimo para os Estados Unidos, e revolucionou os padrões de transporte marítimo.
Os Estados Unidos usaram o canal durante a Primeira Guerra Mundial para revitalizar sua frota devastada no Pacífico. Alguns dos maiores navios que os Estados Unidos tiveram que enviar pelo canal foram porta-aviões, em particular o USS Essex. Estes eram tão largos que, apesar de as comportas poderem contê-los, os postes de luz que ladeiam o canal tiveram que ser removidos para que pudessem passar. Actualmente, os maiores navios que podem atravessar o canal são conhecidos como Panamax.
O canal e a Zona do Canal em torno foram administrados pelos Estados Unidos até 1999, quando o controlo foi passado ao Panamá, como previsto pelos Tratados Torrijos-Carter, assinados a 7 de Setembro de 1977, nos quais o presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter cede aos pedidos de controlo dos panamenhos. Os tratados previam uma passagem gradual do controlo aos panamenhos, que se terminou pelo controlo total do canal pelo Panamá a 31 de Dezembro de 1999.
O Panamá tem, desde então, melhorado o Canal, batendo recordes de tráfego, financeiros e de segurança ano após ano. O Canal do Panamá foi declarado uma das Sete maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Norte Americana de Engenheiros Civis.

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