Aqui presto a minha homenagem a este grande surfista que nos deixou aos 32 anos de idade...
3 de novembro de 2010
25 de setembro de 2010
Canal do Panamá
O Canal do Panamá é um canal com 56 quilómetros de extensão, que corta o istmo do Panamá, ligando assim o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, no Panamá.
O canal possui quatro grupos de comportas no lado do Pacífico e um no do Atlântico. Neste último, as portas maciças de aço das comportas triplas de Gatún têm 140 metros de altura e pesam 745 toneladas cada uma, mas são tão bem contrabalançadas que um motor de 56kW é suficiente para abri-las e reabri-las. O lago Gatún, que fica a 26 metros acima do nível do mar, é alimentado pelo rio Chagres, onde foi construída uma barragem para a formação do lago. Do lago Gatún, o canal passa pela falha de Gaillard e desce em direcção ao Pacífico, primeiramente através de um conjunto de comportas em Pedro Miguel, no lago Miraflores, a 16,5 metros acima do nível do mar, e depois, através de um conjunto duplo de comportas em Miraflores. Todas as comportas do canal são duplas, de modo a que os barcos possam passar nas duas direcções. Os navios são encaminhados para o interior das comportas através de pequenos aparelhos ferroviários. O lado do Pacífico é 24 centímetros mais alto que o lado do Atlântico e tem marés muito mais altas.
Existem diversas ilhas no lago Gatún, incluindo a ilha Barro Colorado, um santuário mundial de vida selvagem.
Foram diversos os navegadores, ao longo da História, que procuraram uma passagem entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. O português Fernão Magalhães, ao serviço da Coroa Espanhola, descobriu, em 1520, um estreito que recebeu o seu nome (estreito de Magalhães). A partir de então, a ligação entre os dois oceanos tornava-se possível, através de uma viagem que era longa, demorada e arriscada, levando a que se pensasse na abertura de um canal que os unisse.
A primeira tentativa conhecida foi empreendida ainda sob o reinado de Carlos I de Espanha, em 1523, mas como as seguintes, até ao século XIX, quando se pensou em transportar as embarcações por ferrovia através do istmo, não teve sucesso.
Em 1878, o francês Ferdinand de Lesseps, construtor do canal de Suez, obteve uma concessão do governo da Colômbia, a quem a região pertencia na época, autorizando a sua empresa a iniciar as obras de abertura do canal.
O projecto de Lesseps constituía-se na abertura de um canal ao nível do mar. Entretanto, na prática, os seus engenheiros nunca conseguiram uma solução para o problema do curso do rio Chagres, que atravessava em diversos pontos o traçado projectado para o canal. Além disso, a abertura deste ao nível do mar, implicava uma completa drenagem daquele rio, um desafio para a engenharia da época.
As obras iniciaram-se em 1880, com base na experiência de Suez. Entretanto, as diferenças de tipo de terreno, relevo e clima constituíram-se em desafios inconsideráveis. Chuvas torrenciais, enchentes, desmoronamentos e altíssimas taxas de mortalidade de trabalhadores devido a doenças tropicais, nomeadamente a malária e a febre-amarela, causaram demoras imprevistas no projecto original. Em 1885, o plano inicial de um canal ao nível do mar foi alterado, passando a incluir uma comporta. Entretanto, após quatro anos de investimentos e trabalho, a empresa faliu.
O presidente norte-americano Theodore Roosevelt estava convencido de que os Estados Unidos podiam terminar o projecto e reconheceu que o controle norte-americano da passagem do Atlântico para Pacífico seria de uma importância militar e económica considerável. O Panamá fazia então parte da Colômbia e Roosevelt começou as negociações com os colombianos para obter a permissão necessária. No início de 1903, o Tratado Hay-Herran foi assinado pelos dois países, mas o Senado colombiano não o ratificou. No que foi então, e ainda hoje é, um movimento polémico, Roosevelt deu a entender aos rebeldes panamenhos que, se eles se revoltassem contra a Colômbia, a marinha norte-americana apoiaria a causa de independência panamenha. O Panamá acabou por proclamar a sua independência em 3 de Novembro de 1903, e o navio USS Nashville, em águas panamenhas, impediu toda e qualquer interferência colombiana.
Quando as lutas começaram, Roosevelt ordenou à Marinha para estacionar navios de guerra perto da costa panamenha para "exercícios de treino". Muitos argumentam que o medo de uma guerra contra os Estados Unidos obrigou os colombianos a evitarem uma oposição séria ao movimento de independência. Os panamenhos vitoriosos devolveram o favor a Roosevelt permitindo aos Estados Unidos o controle da Zona do canal do Panamá em 23 de Fevereiro de 1904 por 10 milhões de dólares (como previsto no Tratado Hay-Bunau-Varilla, assinado em 18 de Novembro de 1903) e de uma renda anual de 250 mil dólares a partir de 1913.
O primeiro engenheiro-chefe do projecto foi John Findlay Wallace. Prejudicado pelas doenças e pela escassa organização, sem condições de trabalho, acabou por se demitir após um ano.
O segundo engenheiro-chefe, John Stevens, optou pela construção de um canal com comportas, propondo-se a controlar o curso do rio Charges através de um aterro de grandes dimensões, formando uma barragem em Gatún. O lago artificial assim formado não apenas forneceria a água e a energia eléctrica necessários à operação das comportas, como também constituiria uma via líquida, que cobriria um terço da distância no istmo. Stevens conseguiu construir a maior parte da infraestrutura necessária para as obras, incluindo a construção de casas para os trabalhadores, a reconstrução da ferrovia do Panamá destinada ao transporte de carga pesada e o projecto de um método eficiente de remoção de entulho decorrente do desmonte de rochas pela ferrovia. Viria a demitir-se, por sua vez, em 1907.
Nesta etapa, o grande sucesso dos EUA foi a erradicação do mosquito transmissor da febre-amarela, que havia vitimado cerca de vinte mil trabalhadores franceses. Com base nos trabalhos do médico cubano Juan Carlos Finlay, Walter Reed havia descoberto em Cuba, durante a Guerra Hispano-Americana, que a doença era transmitida por mosquitos. Desse modo, as novas medidas sanitárias introduzidas pelo Dr. William C. Gorgas eliminaram a febre-amarela em 1905 e melhoraram as condições de higiene e trabalho.
O terceiro e último engenheiro-chefe foi o coronel George Washington Goethals. Sob a sua direcção, os trabalhos de engenharia foram divididos entre a construção de represas, de comportas e de lagos em ambos os lados, e o grande trabalho de escavação através da falha continental em Culebra (Passo de Culebra, hoje conhecido como Falha de Gaillard).
Após dez anos de trabalho e da escavação de um volume de material, quase quatro vezes maior do que o inicialmente projectado, o canal foi finalmente concluído a 10 de Outubro de 1913, com a presença do presidente norte-americano Woodrow Wilson, que naquela data apertou o botão para a explosão do dique de Gamboa. Diversos trabalhadores das Índias Ocidentais trabalharam no canal, e a mortalidade oficial elevou-se a 5.609 mortos.
Concluídas as obras complementares, quando o canal entrou finalmente em actividade, a 15 de Agosto de 1914, constituía-se numa maravilha tecnológica. A complexa série de comportas permitia até mesmo a passagem dos maiores navios da época. O canal foi um triunfo estratégico e militar importantíssimo para os Estados Unidos, e revolucionou os padrões de transporte marítimo.
Os Estados Unidos usaram o canal durante a Primeira Guerra Mundial para revitalizar sua frota devastada no Pacífico. Alguns dos maiores navios que os Estados Unidos tiveram que enviar pelo canal foram porta-aviões, em particular o USS Essex. Estes eram tão largos que, apesar de as comportas poderem contê-los, os postes de luz que ladeiam o canal tiveram que ser removidos para que pudessem passar. Actualmente, os maiores navios que podem atravessar o canal são conhecidos como Panamax.
O canal e a Zona do Canal em torno foram administrados pelos Estados Unidos até 1999, quando o controlo foi passado ao Panamá, como previsto pelos Tratados Torrijos-Carter, assinados a 7 de Setembro de 1977, nos quais o presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter cede aos pedidos de controlo dos panamenhos. Os tratados previam uma passagem gradual do controlo aos panamenhos, que se terminou pelo controlo total do canal pelo Panamá a 31 de Dezembro de 1999.
O Panamá tem, desde então, melhorado o Canal, batendo recordes de tráfego, financeiros e de segurança ano após ano. O Canal do Panamá foi declarado uma das Sete maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Norte Americana de Engenheiros Civis.
16 de setembro de 2010
Pororoca
Pororoca é um fenómeno natural caracterizado por grandes e violentas ondas que são formadas a partir do encontro das águas do mar com as águas do rio. Existem várias explicações para este fenómeno, mas a principal diz que sua causa deve-se à mudança das fases da lua, principalmente nos equinócios, o que aumenta a propensão da massa líquida dos oceanos proporcionando grande ruído.
Na região Amazónica, ocorre esta elevação de água que chega aos 6 metros de altura e a uma velocidade de 30 quilómetros por hora. Pode-se prever uma pororoca com duas horas de antecedência, pois a força da água provoca um ruído muito forte e inconfundível.
Momentos antes da sua chegada o ruído pára e reina o silêncio. Este é o sinal de que é melhor procurar um local seguro para que a força da água não cause nenhum estrago. Hoje, a pororoca tornou-se atracção turística. Realizam-se campeonatos de surf na pororoca onde o vencedor é aquele que permanece mais tempo na onda.
Na região Amazónica, ocorre esta elevação de água que chega aos 6 metros de altura e a uma velocidade de 30 quilómetros por hora. Pode-se prever uma pororoca com duas horas de antecedência, pois a força da água provoca um ruído muito forte e inconfundível.
Momentos antes da sua chegada o ruído pára e reina o silêncio. Este é o sinal de que é melhor procurar um local seguro para que a força da água não cause nenhum estrago. Hoje, a pororoca tornou-se atracção turística. Realizam-se campeonatos de surf na pororoca onde o vencedor é aquele que permanece mais tempo na onda.
7 de setembro de 2010
Yo-yo
O yo-yo é um dos brinquedos mais antigos que existe. É constituído por dois discos, normalmente de plástico, mas podem ser também de madeira ou metal, unidos no centro por um eixo no qual se prende uma corda. Deixando-se cair o yo-yo, de certo modo ele sobe com o impulso, e a corda enrola-se; deverá outra vez cair e subir, sucessivamente, até que termine o impulso inicial.
A história deste brinquedo é bem antiga e misteriosa. Não se sabe bem ao certo onde nasceu o yo-yo, sendo cogitados como prováveis "berços" a Grécia, a China ou as Filipinas. Alguns yo-yo´s antigos foram encontrados na Grécia, datados de 2500 anos, utilizando blocos de barro. Nas Filipinas, os nativos utilizavam o yo-yo como arma e instrumento de caça, sendo colocadas duas pedras em vez de discos e uma corda até seis metros.
No fim da idade média o yo-yo chegou à Europa, onde a nobreza da França e Inglaterra o usavam para relaxar e se afastar um pouco das suas tarefas. Há relatos que afirmam que as tropas de Napoleão se divertiam com yo-yo's antes das batalhas. Nessa época, ele era conhecido como l'emigrette ou bandalore.
O yo-yo, tal como conhecemos actualmente, surgiu nas Filipinas, onde é um brinquedo muito popular entre as crianças. A palavra " yo-yo " vem do filipino e quer dizer "volte aqui".
Foi só em 1928, no entanto, que o yo-yo começou a ser popular no resto do mundo, quando um filipino, Pedro Flores, levou o yo-yo para os Estados Unidos e começou a comercializá-lo.
Pouco tempo depois, o empresário Donald F. Duncan Sr., impressionado com a popularidade desse simples objecto, comprou a empresa de Pedro Flores e transformou-a na Duncan Company, que passaria a ser a responsável pela imensa popularização do yo-yo nas décadas seguinte. Em 1962, só a Duncan chegou a vender 45 milhões de yo-yo's nos Estados Unidos, onde a população de crianças era de apenas 40 milhões.
Nos últimos 20 anos, a tecnologia vem mudando os yo-yo's. Nos anos 80, foram criados os yo-yo's "inteligentes" que retornavam para a mão do dono automaticamente e nos anos 90 o uso de rolamentos nos yo-yo's resultou numa evolução inédita nas manobras realizadas.
Os yo-yo's atuais empregam tecnologia de ponta, a madeira e plástico utilizados há decadas foram substituídos por novos materiais, como o aço, o alumínio e o policarbonato.
Xavantes
Os Xavantes são um grupo indígena que habita no leste do estado brasileiro do Mato Grosso, mais precisamente nas reservas indígenas de Areões, Marechal Rondon, Parabubure, Pimentel Barbosa, São Marcos, Áreas Indígenas Areões I, Areões II, Maraiwatsede, Sangradouro/Volta Grande, Terras Indígenas Chão Preto, Ubawawe, bem como no noroeste de Goiás, nas Colónias indígenas Carretão I e Carretão II.
Actualmente, a sua população é composta por 10 mil pessoas e está em crescimento. A sua língua é o Aqüem que é proveniente do Macro-jê e tinham como actividade predominante, até à segunda metade do século XX, a caça, a pesca e a colheita de frutos e palmeiras.
Auto denominam-se A'wê Uptabi, que significa "gente verdadeira". Pintam-se com jenipapo, carvão e urucum, tiram as sobrancelhas e as pestanas, usam cordinhas nos pulsos e pernas e a gravata cerimonial de algodão. O corte de cabelo, os adornos e as pinturas marcam a diferença dos Xavantes em relação aos outros, transmitida também através dos canticos pelos ancestrais.
Houve tentativas de integração com a sociedade brasileira em meados do século XIX, mas optaram por distanciar-se migrando, entre 1830 e 1860, em direcção ao actual estado do Mato Grosso, onde viveram sem serem intensivamente assediados até à década de 30 do século passado.
Na década de 90, os Xavantes tiveram várias experiências novas com os "estrangeiros", como um intercâmbio realizado com a Alemanha, a implementação de um projecto de educação bilíngüe e uma parceria musical com a banda de rock Sepultura, no álbum "Roots".
A região onde vivem hoje tem uma grande rede hidrográfica formada pelas bacias dos afluentes dos rios Kuluene, Xingu, Mortes e Araguaia. É dessa região de floresta tropical, mato e savana, com árvores baixas e altas, que os índios retiram o alimento e os materiais para o seu artesanato, armas, instrumentos musicais e as ocas (cabanas), dispostas em forma circular.
Devido à actual ocupação da região pelas culturas da soja e pela criação de gado, bem como outras monoculturas agrícolas, o uso de pesticidas e a diminuição das matas, o seu modo de vida ligado à caça e à colheita tem mudado bastante. Muitas vezes a "caça" e a "colheita" são deslocadas da mata para as cidades vizinhas, onde vão adquirir alimento e coisas dos "estrangeiros". Na literatura antropológica, os Xavante são conhecidos principalmente pela sua organização social dualista, ou seja, trata-se de uma sociedade em que a vida e o pensamento dos seus membros estão constantemente permeados por um princípio diádico, que organiza a sua percepção do mundo, da natureza, da sociedade e do próprio cosmos como estando permanentemente divididos em metades opostas e complementares.
A sua tradição tem uma maneira própria de ser transmitida e transformada, através de relatos, rituais e ensinamentos. A escrita é uma necessidade a que o povo Xavante se adaptou, com o intuito de reivindicar o seu espaço na sociedade nacional e internacional.
Entre as suas práticas desportivas está a "corrida de tora de buriti", denominada uiwede, uma corrida de “estafeta” em que duas equipas de gerações diferentes correm cerca de 8 km, passando uma tora de palmeira de buriti com 80 kg de um ombro para o outro até chegarem ao pátio da aldeia.
Desde pequenos os meninos formam grupos de idade semelhante. Quando chega o momento certo, os mais velhos decidem a entrada no Hö (casa tradicional, especialmente construída numa das extremidades do semicírculo da aldeia, para a reclusão dos wapté durante o período de iniciação para a fase adulta), onde os meninos vão viver reclusos, durante cinco anos, até ao momento de casar com uma moça escolhida para ele. Antes de os meninos entrarem para o Hö, acontece a cerimónia do Oi'o, em que os meninos demonstram a sua coragem, os seus medos e as suas fraquezas através da luta entre eles.
O ritual do furo da orelha acontece na passagem da adolescência para a vida adulta. Todos os meninos Xavante, entre os 10 e os 18 anos, passam por um período de reclusão de cinco anos na casa dos solteiros, onde permanecem sem contacto com a tribo. Nesse período os jovens ficam numa casa, chamada Hö, onde têm contacto apenas com os padrinhos. Eles só deixam a casa para rituais e actividades fora da aldeia, como caça e pesca.
Após os cinco anos há uma festa na aldeia, chamada Danhono, onde a orelha dos jovens é furada com um osso de onça parda. Após o ritual, os jovens passam a ser considerados adultos e voltam ao convívio social com a tribo.
Para os Xavantes não existe contradição entre absorver elementos "estrangeiros" (como roupas, relógio, comida) e manter viva sua tradição. Alguns vêm nisso uma forma de resistência à violência ideológica sofrida por todas as comunidades "menores" ou menos "importantes" na sociedade globalizada e hierarquizada, para quem as tradições antigas são consideradas como ultrapassadas, como histórias sem sentido e sem valor na vida mercantil, que rotula tudo o que é diferente do "ideal" como mau e atrasado.
2 de setembro de 2010
Grande Barreira de Coral
Uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo fica na Austrália: é a Grande Barreira de Coral, o maior santuário de vida marinha do mundo. Estende-se por 2 300 quilómetros ao longo da costa nordeste do país e é um dos lugares mais fantásticos do mundo para mergulhar. O acesso aos pontos de mergulho é fácil, relativamente barato e faz-se principalmente a partir de Cairns, uma das cidades mais próximas dos recifes.
A Grande Barreira de Coral é composta por cerca de 2900 recifes, 600 ilhas continentais e 300 atóis de coral. Neste ecossistema complexo vivem cerca de 1500 espécies de peixe, 360 espécies de coral, 5000 a 8000 espécies de moluscos, 400 a 500 espécies de algas marinhas, 1330 espécies de crustáceos e mais de 800 espécies de equinodermes. A área também é preservada pela presença de cubozoários, um grupo de cnidários conhecido pelas toxinas perigosas para o Homem.
Há muitos tipos diferentes de corais, alguns crescem lentamente e vivem centenas de anos, outros crescem mais rápido. As cores dos corais são criadas por algas, e apenas os corais vivos são coloridos – os mortos são brancos.
24 de julho de 2010
Sporting
Durante um século de existência, as equipas e os atletas do Sporting conquistaram 50 medalhas de ouro olímpicas, mundiais ou continentais, além de numerosas distinções de prata e bronze no mesmo âmbito e dezenas de milhar de títulos nacionais e distritais. Poucos clubes do mundo poderão orgulhar-se de tantos êxitos, seguramente não há outro ao nível nacional. O Sporting é igualmente, a seguir ao Barcelona, o Clube com mais títulos europeus no conjunto das modalidades que pratica.
Nos dias da fundação, em 1906, José Alvalade profetizou o conhecido desejo de transformar o Sporting num «grande clube, tão grande como os maiores da Europa». Hoje, passado um século, é extraordinário registar a confiança manifestada desde logo por José Alvalade nos princípios, nos valores, na vocação ganhadora e no ambicioso espírito desportivo manifestado pelos fundadores. Ousando desbravar caminhos muito mal conhecidos quando o desporto, em Portugal, era ainda uma actividade incipiente, com características muito elitistas, os primeiros sportinguistas conseguiram fixar bem fundo as raízes de uma colectividade poderosíssima projectada ao nível mundial, como é hoje o Sporting. Além dos títulos, mais de três milhões de adeptos em todos os continentes, um número superior a 300 Núcleos, Filiais e Delegações e uma pujante dinâmica ganhadora demonstrada todos os dias falam por si.
Tudo começou nos alvores tão românticos como turbulentos do século XX, em 1902, quando um grupo de jovens veraneantes em Belas, então um bucólico e ainda distante subúrbio de Lisboa, decidiram fundar um club e disputar um jogo de foot-ball (assim se designava a modalidade) em Seteais integrado nas festas populares de Sintra. Foi um jogo muito animado e com frequência considerada distinta – figuras da família real estiveram presentes – disputado entre o Sport Club de Belas, a designação que os desportistas em férias tinham dado à sua colectividade, e um grupo de Sintra. Vitória por 3-0 do Belas, no qual se destacavam os irmãos Gavazzo, Francisco e José Maria, entre outros desportistas de então, todos eles qualificados pela imprensa como “elementos de boas famílias”, como então se dizia. O Diário de Notícias informou sobre o acontecimento relatando que «num círculo compacto assistiam mais de quatro mil pessoas, cheias de animação e de interesse».
O Sport Club de Belas foi um sonho de Verão que se esfumou terminadas as férias, mas não morreu. O jogo em Sintra, realizado em 26 de Agosto de 1902, foi marco único; porém, os ideais que motivaram os intervenientes continuaram bem vivos. Os jovens veraneantes, pouco mais do que adolescentes, regressaram ao quotidiano lisboeta sonhando com os ecos dos sports no estrangeiro, principalmente França e Inglaterra, mantendo-se em contacto pois muitos deles partilhavam a área residencial do Campo Grande e frequentavam tertúlia na Pastelaria Bijou, que ainda hoje existe na Avenida da Liberdade. Foi aí que, quase dois anos depois da experiência de Belas, em 1904, os jovens amantes do desporto e do convívio ao ar livre decidiram voltar ao terreno e fundar o Campo Grande Football Club. Outros dos convivas daquele Verão de 1902 nos subúrbios tinham anteriormente metido mãos à obra e fundado o Clube Internacional de Futebol, o histórico CIF agora com as suas instalações em Monsanto.
A sede do Campo Grande Football Club ficou instalada num quarto do segundo andar do Solar dos Pinto da Cunha, edifício que continua a definir a esquina entre a Alameda das Linhas de Torres e o Campo Grande. Além dos irmãos Gavazzo, participaram na reunião fundadora o jovem José Holtreman Roquette (José Alvalade), José Stromp e outros entusiastas da prática desportiva. O Visconde de Alvalade, José Alfredo Holtreman, avô de José Alvalade, patriarca da família então já a caminho dos 70 anos, foi designado presidente, a título honorífico, pelo seu apoio desinteressado e a sua capacidade natural de entender e incentivar os anseios e espírito de iniciativa do neto e respectivos amigos.
Futebol, esgrima, ténis, corridas, saltos, festas sociais e piqueniques foram as principais actividades dinamizadas pelo novo clube durante os primeiros dois anos de existência.
Em 1906 os ambientes turvaram-se e gerou-se uma divisão entre os membros que defendiam uma colectividade vocacionada para festas e actividades de convívio social e outros que insistiam na dedicação à vertente desportiva. Explica Júlio de Araújo, mais tarde presidente do Sporting, historiando o processo da fundação, que «dia-a-dia se acentuavam duas tendências: a dos rapazes de Lisboa, que desejavam a sede na Baixa; outra, a dos do Campo Grande, que a pretendiam naquele local, como seria justo e aconselhável». Além disso, de acordo ainda com a narrativa de Júlio de Araújo, «o desentendimento prevaleceu não somente quanto à sede, mas também quanto à forma de ser do Clube, visto que os de Lisboa, ao contrário dos do Campo Grande, mais se interessavam pelas festas do que pelas práticas desportivas».
Da turbulência nasceu uma cisão. José Gavazzo demitiu-se, acompanhado por mais cerca de duas dezenas de membros. Um deles foi José Alvalade que, sem demora, anunciou: «Vou ter com o meu avô e ele me dará dinheiro para fazer outro Clube.»
Decisão que foi recompensada. O Visconde de Alvalade tutelou a criação do novo clube, depositou nas mãos do neto uma importante quantia em dinheiro, disponibilizou os terrenos para o campo de jogos na sua própria quinta – o Sporting ainda hoje continua a “morar” na mesma zona – e ficou como presidente da Direcção e como “Sócio Protector”. Foi então que o jovem José Alvalade, num rasgo de entusiasmo aliado ao êxito das suas iniciativas, mas que se revelou de grande visão histórica, proferiu o célebre voto: «Queremos que este Clube seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa.»
Em 14 de Abril de 1906 a recém-criada colectividade adoptou a designação provisória de Campo Grande Sporting Club. A 1 de Julho do mesmo ano, por sugestão de António Félix da Costa Júnior, passou a chamar-se Sporting Clube de Portugal. Em Julho de 1920, por proposta de Nuno Soares Júnior, a Assembleia Geral adoptou a data de 1 de Julho de 1906 como a da fundação oficial do Sporting. Foram 18 os fundadores a quem se deve essa enorme gesta que agora celebra um século.
O Sporting Clube de Portugal comemorou, portanto, cem anos bem contados, com respeito pelo rigor histórico. Outros somam anos a partir da fundação de entidades que lhes deram origem ou ignoram longos períodos de inactividade que se seguiram a uma efémera existência. São critérios. Para ser mais “idoso”, como outros se dizem, o Sporting poderia ter fixado como data da sua fundação a do Sport Club de Belas (1902) ou mesmo a do Campo Grande Sporting Club (1904), mas não o fez.
Nesses dias de 1906 ficou traçado o caminho: futebol sim, mas eclectismo também, correspondendo à vocação atlética multidisciplinar de alguns dos seus fundadores. Eles eram ao mesmo tempo dirigentes e atletas, jogavam futebol, faziam atletismo, praticavam ténis, tracção à corda, esgrima, críquete, ginástica, hóquei em campo...
Em 1907, D. Fernando de Castelo Branco (Pombeiro) autorizou que o leão rampante do seu brasão fosse utilizado como símbolo do Sporting, desde que não sobre fundo azul. «... Não de oiro armado de vermelho em campo azul, como nos Pombeiros, mas de prata armado em preto, em campo verde, como correspondia às límpidas, firmes e esperançadas intenções dos seus fundadores», recorda Júlio de Araújo. O verde fora, de facto, sugerido pelo Visconde de Alvalade, simbolizando a sua esperança no novo clube.
A 3 de Fevereiro de 1907 realizou-se o primeiro jogo de futebol do Sporting. Não se pode dizer que tenha estado à altura dos êxitos vindouros: derrota por 5-1, em segundas categorias, frente ao Cruz Negra, em partida disputada em Alcântara. Do lado dos vencedores jogaram alguns desportistas que depois ingressaram no Sporting: Alípio da Motta Veiga, Octávio Teixeira Bastos, António das Neves Vital, entre outros. D. João de Vila Franca marcou o golo de honra desse jogo, que assim se tornou o primeiro da História do Sporting.
Em 1 de Dezembro de 1907 nasceu uma longa e eterna rivalidade. O Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa (que só viria a designar-se Benfica no ano seguinte) disputaram o seu primeiro jogo de futebol, no Campo da Quinta Nova, em Sete Rios. O Sporting, que nos primeiros tempos vestira de branco, estreou nesse encontro o seu equipamento de camisola bipartida verticalmente numa faixa verde e outra branca, com calções brancos, agora adoptado como um dos modelos solenes para as comemorações do Centenário. Ficou conhecido como “equipamento Stromp”, homenagem popular sportinguista a Francisco Stromp, um grande futebolista e um dos mais eclécticos desportistas portugueses de todos os tempos. O Sporting venceu por 2-1 e Cândido Rosa Rodrigues, um dos irmãos Catatau, antigo praticante do Sport Lisboa, marcou pelos “leões” o primeiro golo dos muitos jogos entre os dois grandes rivais do desporto português. Em 1907-1908 o Sporting sagrou-se vice-campeão regional.
O clube já dispunha, nessa altura, daquele que era considerado o melhor campo de Portugal, no Sítio das Mouras. Localizava-se no nº 73 da então Alameda do Lumiar, hoje Alameda das Linhas de Torres, em terrenos disponibilizados pelo Visconde de Alvalade na sua quinta. Começou a funcionar ainda em Maio de 1906 e foi melhorado logo em 1907. O complexo desportivo integrava campo de futebol, pista de atletismo, dois campos de ténis, pavilhão com chuveiros e banhos de imersão e até uma cozinha. Um luxo para o tempo.
Em 1910 o eclectismo estava enraizado. O Sporting evidenciava-se em ténis por equipas e ganhou os títulos do salto à vara, do lançamento do peso e do salto em comprimento. Este foi o ano em que José Alvalade assumiu a presidência, que manteve até 1916.
O rumo do clube estava traçado: o das vitórias. O Sporting ganhou o seu primeiro Campeonato de Lisboa de Futebol, ainda em quartas categorias, no ano de 1912. O feito foi reeditado em 1915, mas já na categoria de Honra, a que se juntou a Taça de Honra, com vitória sobre o Benfica na final (3-1). O Campeonato de Lisboa de 1915 foi o primeiro de uma longa série de 19 (chegaram a ser seis consecutivos) ganhos até 1947, quando a competição foi extinta. Ainda em 1915, as equipas do Sporting passaram a usar calções pretos com a camisola “Stromp”.
Laranjeira Guerra venceu o Porto-Lisboa em ciclismo no ano de 1912, competição que também era uma epopeia com as estradas, os meios e os equipamentos de então, tornando-se um precursor de ciclistas brilhantes como Alfredo Trindade, João Roque, Leonel Miranda, Marco Chagas e o maior de todos, o saudoso Joaquim Agostinho. Classificações brilhantes na Volta à França, entre elas um terceiro lugar, e um segundo lugar na Volta à Espanha – sem contar os grandes triunfos em Portugal – transformaram Agostinho numa das lendas e símbolos do Sporting.
Numa modalidade muito em voga à época, a luta de tracção à corda, o Sporting revelou-se a grande potência: nunca foi derrotado enquanto se realizaram competições da especialidade.
Ainda no ano de 1912, o também polivalente António Stromp brilhou nas provas de 100 (quarto lugar na eliminatória) e 200 metros dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, que foram fatais para o maratonista português Francisco Lázaro. António Stromp foi pois o primeiro atleta olímpico sportinguista, iniciando uma caminhada que transformou o Clube na maior potência olímpica do País, tanto em número de representantes como de medalhas conquistadas. Também em 1912 o Sporting venceu o primeiro da longa série de Campeonatos Nacionais de Corta-Mato.
Em 1917 o Sporting mudou de instalações. José Alvalade fizera construir o Stadium de Lisboa, em 1914, mas divergências quanto à sua utilização entre o fundador e a Direcção eleita em 1916 levaram os responsáveis sportinguistas em exercício a procurar outra solução. Arrendaram um terreno nas vizinhanças, no Campo Grande 412, e aí construíram um estádio sob projecto do arquitecto António do Couto, que foi a casa do Sporting durante 30 anos. A vida do recinto, porém, prolongou-se por mais algumas décadas pois foi utilizado pelo Benfica, com solidariedade do Sporting, quando se mudou das Amoreiras. Ficou popularmente conhecido pela “estância de madeira”. Em parte do terreno onde existiu assenta hoje a área sul do Estádio José Alvalade.
Nos anos vinte aconteceu a primeira vitória do Sporting no Campeonato de Portugal de futebol (1922/23), a competição que atribuía o título nacional, embora disputada em sistema de eliminatórias. O jogo decisivo foi em Faro, em 24 de Junho de 1923, com uma vitória por 3-0 frente à Académica de Coimbra. Os campeões: Torres Pereira, Jaime Gonçalves, Francisco Stromp, João Francisco Maia, Carlos Fernandes, José Leandro, Filipe dos Santos, Joaquim Ferreira, Cipriano dos Santos, Jorge Vieira e Henrique Portela. Joaquim Ferreira marcou dois golos; Francisco Stromp, lenda do Sporting e do desporto português, pioneiro dos tempos da fundação, cavalheiro e atleta sobredotado, marcou o outro e abandonaria o futebol no ano seguinte, em 1924.
Em 1928 o Sporting estreou no futebol as suas camisolas às riscas horizontais verdes e brancas, uma mudança que, em boa parte, foi proporcionada pelo râguebi. Aconteceu numa histórica viagem ao Brasil, a primeira de um clube português, e ficou a dever-se ao facto de os equipamentos às listas usados pelo râguebi serem mais frescos e estarem em melhor estado do que os do futebol – camisola bipartida verde e branca e calções pretos. Uma circunstância fortuita, como tantas vezes acontece na História, originou um modelo de equipamento que se tornou profundamente apreciado em Portugal e no estrangeiro, muito procurado pela sua originalidade. A opção pelas listas horizontais no râguebi fora sugerida pelo próprio Salazar Carreira, inspirado no equipamento de um clube francês da modalidade, o Racing de Paris, embora este utilizasse o vermelho e branco. No regresso do Brasil a equipa de futebol voltou ao vestuário original mas em Outubro de 1928, num jogo frente ao Benfica disputado sob temporal, os jogadores mudaram de equipamento ao intervalo e regressaram para a segunda parte com as camisolas do râguebi. O Sporting ganhou o jogo e... um novo equipamento.
A série de vitórias nos Campeonatos de Portugal em futebol prosseguiu nos anos trinta: 1933/34, 1935-36 e 1937-38. Nesta década, o Clube somou títulos em ténis, ciclismo, râguebi (ao nível regional), tiro, hóquei em patins (vitória no Campeonato Nacional em 1937-38, primeira edição da prova), patinagem, ginástica e esgrima.
Alfredo Trindade, com numerosos títulos em várias especialidades do ciclismo, venceu a Volta a Portugal em 1933, a primeira vitória individual e colectiva do Sporting na mais importante prova velocipédica portuguesa. Trindade ficou na história pelos seus feitos individuais mas também pela intensa rivalidade, temperada com respeito e grande amizade, com o benfiquista José Maria Nicolau. Os seus duelos empolgaram os portugueses de então, mesmo sem a dinâmica mediática que hoje existe. José Albuquerque, o “Faísca”, venceu a Volta a Portugal de 1940.
O lendário avançado-centro Fernando Peyroteo, que ingressara no Sporting em 1937, emergiu em 1938 como melhor marcador do Campeonato da I Liga, com 34 golos. Ele viria a ser uma figura central dos anos de ouro que se seguiram.
Os anos de quarenta e cinquenta foram fabulosos para o Sporting. Dez dos 18 títulos de Campeão Nacional de Futebol conquistados pelo Sporting até hoje aconteceram nesses 20 anos, aos quais se juntaram quatro das 13 Taças de Portugal que figuram no quadro de honra do Clube. De 1946-47 a 1953-54 o Sporting venceu sete dos oito campeonatos em disputa, juntando um tricampeonato e um tetracampeonato – ficando a época de 1949-50 de permeio. Foram os anos dos “Cinco Violinos”, de grandes e históricas equipas que conquistaram enorme fama nacional e internacional, de técnicos como José Szabo, Kelly, Galloway, Cândido de Oliveira, Armando Ferreira, Enrique Fernandez e outros. A designação “Cinco Violinos” foi atribuída pelo jornalista e treinador Tavares da Silva a uma linha avançada formada por Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. Eles e os seus companheiros formavam uma orquestra a jogar, tal o espírito colectivo e a eficácia em campo. Nesses anos o Sporting chegou aos 123 golos (quase cinco por jogo!) num campeonato que tinha então 26 jornadas, menos oito que actualmente. Um recorde que dificilmente será batido.
Além dos campeonatos nacionais e das taças de Portugal, as equipas do Sporting somaram vitórias em iniciativas pontuais como a taça “O Século”, competição suprimida sem explicações depois de os “leões” terem conquistado os dois primeiros monumentais troféus, e a taça Império.
Esses tempos foram de tal maneira impressionantes aquém e além-fronteiras que, apesar de não ser então campeão nacional em título, o Sporting foi convidado para participar na primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1955-56. Foi pena que a UEFA não tivesse lançado a competição alguns anos mais cedo... Para a História fica ainda o facto de o Sporting ter inaugurado a Taça dos Campeões num jogo com o Partizan de Belgrado (3-3), no Estádio Nacional. João Martins marcou o primeiro golo desta histórica e hoje milionária competição.
O tetracampeonato do Sporting, o primeiro do futebol português, arrancou em 1950-51 com os seguintes jogadores: Mário Wilson, Juca, Jesus Correia, Manuel Passos, Juvenal, Vasques, Galileu, Veríssimo, Travassos, Martins, Tormenta, Carlos Gomes, Leandro, Caldeira, Barros, Canário, José Travassos, César Nascimento, Anacleto, Manuel Marques, Pacheco Nobre, Mateus e Pacheco. O treinador era o britânico Randolph Galloway, que tinha como adjunto Fernando Vaz.
Em 1955 José Travassos foi o primeiro futebolista português a ser convocado para uma Selecção da Europa. Jogou em Belfast perante a equipa da Grã-Bretanha e mereceu referências muito elogiosas da imprensa internacional, assim conquistando para sempre o cognome de “Zé da Europa”.
A depois célebre escola de futebol do Sporting começava já a marcar posição. O clube ganhou o primeiro Campeonato Nacional de Juniores, disputado em 1938-39 e, até 1960, repetiu a façanha em 45-46, 47-48 e 55-56.
Francisco Inácio venceu a Volta a Portugal em 1941, mas os títulos nacionais em estrada e em pista vão bastante para além disso.
De notar que em 1945 o Sporting fundou as primeiras escolas de natação em Portugal, “país de marinheiros” onde mal se nadava. O Sporting já fora pioneiro ao abrir um posto náutico no início dos anos vinte, daí as vitórias em pólo aquático nos primeiros anos da modalidade.
Em 1941 começou a era dos títulos em andebol, com a vitória no Campeonato Regional na variante de Onze, a que existia ao tempo, jogada em campos de futebol. A série de vitórias nacionais no andebol de sete foi inaugurada em 1951-52 e os 18 títulos somados até ao momento não estão ameaçados por qualquer concorrente, seja ele de longa ou fresca data.
Na década de cinquenta, além dos títulos nas modalidades de maior divulgação há a registar os conquistados em bilhar, esgrima, tiro, ténis de mesa (28 campeonatos nacionais até hoje!), badminton, automobilismo, os dois primeiros campeonatos nacionais de voleibol (53-54 e 55-56), o primeiro campeonato nacional de basquetebol, em 1956. O Sporting viria a conquistar mais sete títulos máximos nesta modalidade, entretanto extinta. No voleibol, que também deixou de se praticar no Clube, o Sporting conquistou mais quatro títulos até 1993-94.
Em 1956, a 10 de Junho, o Sporting inaugurou o Estádio José Alvalade, um feito que assinalou a grande vitalidade, a dinâmica e a capacidade de mobilização do Clube e dos seus dedicados associados, que se desdobraram em iniciativas e sacrifícios para que tal obra gigantesca fosse possível. O Sporting tinha regressado às origens, ao Stadium ou Estádio do Lumiar em 1937, arrendado em muito boas condições e depois reconstruído em 1947. Foi o cenário das récitas das equipas dos “Cinco Violinos”, que rapidamente se tornou pequeno para a extraordinária envergadura do Clube à medida que se aproximava dos seus primeiros 50 anos de vida. A necessidade de um novo estádio tornou-se premente logo no início da década de cinquenta e acabou por ser uma realidade em 1956, assentando sobre a área do antigo Stadium. Foi baptizado com o nome do fundador que teve sempre como preocupação a qualidade das instalações do Clube, José Alvalade. Aliás a designação já fora adoptada anteriormente, a partir de 1947, ao remodelado Estádio do Lumiar. O sócio nº 1 do Sporting ao tempo da inauguração do grandioso Estádio era José Maria Gavazzo, um dos fundadores e um dos jovens veraneantes de Belas em 1902.
A 6 de Junho de 1960, o Sporting foi declarado Instituição de Utilidade Pública.
Manuel Faria, fundista de grande prestígio, antecessor de Manuel de Oliveira, Carlos Lopes, Fernando Mamede e dos irmãos Castro, venceu as famosas corridas de São Silvestre de São Paulo em 1957 e 1958, até então os maiores feitos do atletismo português juntamente com o quarto lugar do saltador em comprimento Álvaro Dias no Campeonato da Europa.
Na década de sessenta o ponto mais alto do futebol foi a conquista da Taça Europeia dos Vencedores de Taças, em 1963-64. Uma epopeia que passou por três jogos suplementares, incluindo a final, uma vitória de 5-0 sobre o Manchester United e uma goleada de 16-1 sobre o Apoel de Chipre, que ainda hoje é recorde das competições europeias de clubes. A vitória nessa gesta, na qual poucos acreditavam à partida tanto mais que a carreira interna não era famosa, foi obra de uma equipa unida e psicologicamente fortíssima, liderada primeiro por Gentil Cardoso, depois pelo arquitecto Anselmo Fernandez, e na qual pontificavam, entre alguns outros, grandes nomes do futebol “leonino” e nacional como Carvalho, Pedro Gomes, Lino, Alexandre Batista, José Carlos, Hilário, Fernando Mendes, o grande capitão, Geo, Pérides, Osvaldo Silva, Figueiredo, Mascarenhas e João Morais, autor do canto directo em Antuérpia com o qual se decidiu o vencedor da prova.
Com a extinção da Taça das Taças na temporada de 1998-99 e respectiva fusão com a Taça UEFA, o Sporting tornou-se assim o único clube português a poder ostentar este título histórico.
Entre 1960 e 1999, a equipa de futebol venceu mais seis Campeonatos Nacionais, o último dos quais em 1981-82, e mais sete Taças de Portugal, entre elas a de 1994-95, que assinalou um regresso da equipa principal aos títulos de âmbito nacional depois de um prolongado interregno. Os juniores triunfaram em mais seis Campeonatos Nacionais, os juvenis em oito, o mesmo acontecendo com os iniciados. Os infantis conquistaram três taças nacionais, competição entretanto extinta durante a década de noventa.
Em 1974, com 46 golos, Hector Yazalde, ponta-de-lança do Sporting, conquistou a Bota de Ouro dos goleadores europeus. O seu recorde ainda hoje se mantém. Em 2002, Mário Jardel tornou-se o segundo jogador do Sporting a conquistar essa distinção europeia.
No hóquei em patins o Sporting registou uma gloriosa vaga europeia entre 1975 e 1990, com uma Taça dos Campeões Europeus – era a melhor equipa do mundo na altura –, três Taças das Taças e uma Taça CERS.
O atletismo foi e continua a ser uma constante fonte de orgulho para o Sporting. Carlos Lopes conquistou três Campeonatos Mundiais de Corta-Mato, uma medalha de ouro e uma medalha de prata em Jogos Olímpicos. O corredor do Sporting empolgou o país com a vitória na maratona olímpica de Los Angeles, em 1984. Os seus troféus foram precursores de vários outros de âmbito olímpico, mundial e europeu de que hoje o Sporting se orgulha.
Fernando Mamede foi recordista mundial dos 10 000 metros durante cinco anos e recordista europeu da mesma prova durante 15 anos. O Sporting somou entretanto, até aos dias de hoje, 14 Taças dos Campeões Europeus e 46 títulos nacionais em Corta-Mato, 43 títulos nacionais colectivos masculinos e 37 femininos em pista.
No ano 2000, a equipa de atletismo do Sporting venceu a Taça dos Clubes Campeões Europeus em pista, feito único no desporto português que foi conseguido sobre uma equipa russa que era praticamente a selecção nacional de uma das potências mundiais e olímpicas da modalidade. O glorioso triunfo foi consolidado por mais três terceiros lugares na mesma prova, confirmando o Sporting como um dos maiores e mais consistentes clubes europeus da modalidade olímpica por excelência, mantendo as equipas masculina e feminina no escalão máximo continental. Depois de Carlos Lopes, Fernando Mamede e os irmãos Castro, todos eles com medalhas e recordes internacionais, Rui Silva, Naide Gomes, Francis Obikwelu, o homem mais veloz da Europa, Yuri Bilonog e Ionela Tirlea são atletas da geração do centenário com expressão mundial que interpretam a vocação ganhadora do Sporting além-fronteiras.
João Roque, Leonel Miranda, Joaquim Agostinho e Marco Chagas, entre outros, brilharam no ciclismo, em estradas portuguesas e estrangeiras. Agostinho – terceiro lugar numa Volta à França, segundo numa Volta a Espanha, vencedor de três Voltas a Portugal – morreu a 10 de Maio de 1984, na sequência de uma queda provocada por um cão quando seguia com a camisola amarela na Volta ao Algarve, em representação do Sporting. O seu nome está perpetuado numa curva da terrível escalada do Alpe D'Huez, na Volta à França, como preito à épica vitória do ciclista português e sportinguista nessa mítica etapa.
O ténis de mesa do Sporting amealhou títulos nacionais numa quantidade recorde insuperável a curto prazo. Entre 1984-85 e 1994-95 ganhou 11 Campeonatos Nacionais consecutivos e desde o início da competição, nos anos quarenta, até à actualidade já soma 28 títulos máximos ao nível de equipas.
No bilhar, os representantes do Sporting assumiram igualmente nível europeu, em termos individuais e colectivos.
Em 1996 o Sporting iniciou um novo ciclo de vida, por acção de José Roquette e outros dirigentes caracterizados por uma dinâmica transformadora como Miguel Galvão Teles, Dias da Cunha e Ernesto Ferreira da Silva. Aprovou Estatutos adequados à realidade dos tempos modernos, lançou as bases de um grupo empresarial, criou uma Sociedade Desportiva de Futebol, SAD, admitida na Bolsa logo desde 1998. Além disso, o Clube assumiu e dinamizou medidas no sentido de estabelecer a transparência no desporto e nas relações deste sector de actividade com as instâncias fiscais e de segurança social.
No âmbito do processo transformador o Sporting avançou de maneira determinada, e ainda antes de Portugal se abalançar na candidatura à organização do Euro 2004, para a modernização de infraestruturas.
As acções integradas neste novo ciclo ficaram conhecidas como “Projecto Roquette”, entendido globalmente como uma dinâmica de modernização do Clube em três frentes: a desportiva, com racionalização e valorização de meios através de formas actualizadas de funcionamento; a patrimonial, capaz de proporcionar a transformação de bens inertes em estruturas desportivas e multifuncionais rentáveis; e a organizacional, caracterizada pelo funcionamento de todo o Clube de forma inovadora, conjugando a dedicação com a profissionalização de acordo com as condições reais, valorizando o presente sem hipotecar o futuro.
Em 2002 entrou em funcionamento a Academia Sporting, no concelho de Alcochete, um empreendimento a que corresponde um grande esforço para aprofundar a capacidade e a qualidade desde sempre revelada pela famosa escola de talentos do Sporting e que proporciona excelentes condições de trabalho ao futebol profissional.
Em torno do novo Estádio cresceu entretanto o Complexo Alvalade XXI, que reforça a sua multifuncionalidade. A zona onde o Sporting nasceu, se engrandeceu e onde continua a viver foi valorizada, deste modo, com o Edifício Visconde de Alvalade, que alberga a maioria dos serviços do Clube e respectivas empresas; o Edifício Multidesportivo, “casa” do eclectismo que o Sporting continua a manter desde a fundação; o Alvaláxia, centro comercial, cultural e lúdico por onde passam milhares e milhares de pessoas por dia, e não apenas em dias de jogos de futebol; uma Clínica Médica; um Health Club; um Centro de Dia, expressão solidária do Sporting através dos “Leões de Portugal”; e o Mundo Sporting, o novo museu do Clube, o lugar onde sportinguistas e adeptos do desporto podem sentir ao vivo cem anos de uma história fabulosa.
Em 2000, através de uma campanha seguida apaixonadamente por sócios e adeptos, o Sporting voltou a conquistar o Campeonato Nacional de Futebol depois de 17 anos de interrupção. Ao jogo derradeiro, vitória por 4-0 no terreno do Salgueiros, seguiu-se uma festa de âmbito nacional, estendida a todos os sítios do mundo onde há portugueses, que não teve paralelo até hoje, a não ser na que foi proporcionada pelo segundo título nacional em três anos, o de 2002. Uma Taça de Portugal e uma Supertaça Nacional reforçaram a nova dinâmica do futebol do Sporting dentro do ciclo transformador e que teve expressão de relevo mundial em 2005 com a chegada à final da Taça UEFA através de um percurso empolgante. O novo Estádio José Alvalade viveu uma jornada de alto nível em 18 de Maio de 2005: o Sporting perdeu por 1-3 com o CSKA de Moscovo ao cabo de 14 jogos nos quais espalhou a qualidade do seu futebol através da Europa, mas o inêxito derradeiro não apaga a importância da campanha.
À entrada do segundo século de vida o Sporting revela uma invejável saúde desportiva geral que reforça o excelente trabalho que o futebol tem realizado na última década, em todos os escalões, e que continua a dar frutos e títulos.
O Sporting é, com longa vantagem sobre os adversários, a maior potência em atletismo, em andebol, em futsal, em ténis de mesa e domina no sector feminino da natação. Os últimos títulos reforçaram a hegemonia no atletismo e no andebol. No futsal, modalidade relativamente recente, o Sporting tem o maior número de campeonatos nacionais conquistados e adquiriu expressão também ao nível europeu.
Ao mesmo tempo que os atletas sportinguistas lutam pela vitória em todas as frentes, as comemorações do Centenário coincidem com esforços permanentes dos dirigentes de modo a que o Clube esteja cada vez mais preparado para os desafios do presente e do futuro, capaz de viver com as próprias forças. Um caminho ambicioso que se vem concretizando passo a passo, com a necessária consistência.
Afinal foi a ambição de ganhar e de fazer do Sporting um dos maiores clubes da Europa que orientou os fundadores, desde os remotos tempos de um jogo do efémero Sport Club de Belas contra um grupo de Sintra. A obra de todos os sportinguistas aí está, erguida dia-a-dia ao longo de 100 anos, numa interminável estafeta caracterizada por dedicação, paixão e ambição, independentemente de quem transporta o testemunho: um Sporting que é desportivamente o maior clube português e um dos maiores da Europa.
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